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'Crinoline.' Enamel, Acrylic and Oil on Wood. Artista: Tracy Harris. Certa vez, passando pelas cercanias do bairro de Nova...

Os Cabecinhas-Branca de São Gonçalo


'Crinoline.' Enamel, Acrylic and Oil on Wood. Artista: Tracy Harris.

Certa vez, passando pelas cercanias do bairro de Nova Cidade, São Gonçalo,  logo ali na praça, a qual empresta seu nome ao bairro ou vice-versa, avistei um aglomerado do qual intitulei “cabecinhas-branca”. O leitor certamente irá se assustar com o termo. Fato é, que, investigando mais próximo pude perceber que era um grupo social relativamente grande, cerca de 20 espécimes humano, super entretidos nos seus mais variados jogos homéricos de azar. Caracterizavam-se por possuir particularidades biológicas semelhantes em um ponto do ciclo de vida social e cabelos bem esbranquiçados, motivo pelo qual os denominei cabecinhas-branca. A idade cronológica sibilava em torno dos enta... Sessenta, Setenta, Oitenta... Pensei com meus botões: Nossa! Quantos são? O que fazem? Qual o status deles na sociedade gonçalis? Seria uma espécie em extinção ou uma nova onda que chegou para ficar?


É importante ressaltar que, mesmo reconhecendo que a idade não é o único parâmetro para definir o processo sociodemográfico dos "cabecinhas-branca" muito menos a coloração capilar, a fim de facilitar a análise dos dados e a construção dos indicadores selecionados para visualizar o perfil, a presente investigação adotou como critério de classificação, as pessoas com 60 anos ou mais de idade, cuja abrangência geográfica está delimitada para os moradores situados no município de São Gonçalo (RJ).

Feito essas ponderações, pensei em buscar informações nos veículos que mais conhecem  os cabecinhas-branca. Pensei logo no Censo Demográfico de 2010 do IBGE o qual possui uma base de dados contendo informações quantitativas da população brasileira e, também, no Datasus do Ministério da Saúde que captura registros administrativos referentes à saúde da população, em nível municipal. Ambos pesquisam todos os espécimes humanos, inclusive  os cabecinhas-branca.

Vale a pena lembrar que o caráter desta pesquisa não é, por conseguinte, o de esgotar o universo das informações potencialmente disponíveis. Au contraire, o objetivo é instigar o leitor na busca de novas informações.

População cabecinha-branca em crescimento - São Gonçalo (RJ)

Com base nas primeiras informações disponibilizadas, a população de cabecinhas-branca em São Gonçalo vem crescendo, de 1980 a 2010, com todo gás, como podemos observar no Gráfico 1. Na última década (2000-2010), por exemplo, o crescimento desta população foi de 46%! Ou seja, em 10 anos a população de cabecinhas-branca cresceu quase a metade em relação ao ano de 2000.

Já poderíamos mencionar que esse espécime está longe de ser extinto na medida em que vem crescendo ao longo dos anos.


Gráfico 1- População total, população de cabecinhas-branca e proporção de cabecinhas-branca , São Gonçalo, 1980-2010

Fonte: Censo Demográfico/IBGE, 2010

Um dado que reforça esse crescimento, podemos notar no próprio Gráfico 1. Visualizamos que a proporção de cabecinhas-branca vem aumentando e já no ano de 2010, essa população era composta por mais de 120 mil. Isso significa dizer, baseado na população total, que, a cada 25 moradores de São Gonçalo 3 são cabecinhas-branca.

As cabecinhas-branca dominam a espécie!

Bom, agora que já sabemos que não estão em extinção, poderíamos descobrir quantos cabecinhas-branca são do sexo masculino e quantos são do sexo feminino.
Na Tabela 1, notamos rapidamente que há mais cabecinhas-branca do sexo feminino do que do sexo masculino. Em 2010, as mulheres correspondiam a 58,4% da população de cabecinhas-branca. Isto significa dizer que para cada 100 mulheres cabecinhas-branca havia 71,3 homens.



Tabela 1- Número de moradores de 60 anos ou mais deidade por sexo, São Gonçalo, 2010.


Moradores
Percentual
Masculino
50.010
41,6
Feminino
70.145
58,4
Total
120.156
100,0



     

       Pesquisando na literatura sobre o tema, descobri que tal diferença é explicada pelos diferenciais de expectativa de vida entre os sexos, fenômeno mundial, mas que é bastante intenso no Brasil, haja vista que, em média, as mulheres vivem oito anos mais que os homens.

        A relação entre gênero e envelhecimento baseia-se nas mudanças sociais ocorridas ao longo do tempo e nos acontecimentos ligados ao ciclo de vida. Elas se cuidam mais. Eles são mais expostos a violência. A maior longevidade feminina implica transformações nas várias esferas da vida social, uma vez que o significado social da idade está profundamente vinculado ao gênero. (BARBOT-COLDEVIN, 2000, p. 262). 

       
Eles nasceram na Região Gonçalis?

     Estudos revelam, ver gráfico 3 que a maioria dos cabecinhas-branca não nasceram em São Gonçalo, de ambos os sexos. Como estamos lidando com espécimes humanos que nasceram nas décadas de 30, 40, 50...  E, se lembrarmos que esse período foi marcado pelos anos dourados da indústria Gonçalis não é de se admirar, que outrora, houvera o advento maciço de migrantes que vieram para a cidade.

            Gráfico 3-  Cabecinhas-branca que nasceram em São Gonçalo,  por sexo, 2010
Fonte: Censo Demográfico/IBGE, 2010.

Responsabilidade pelo domicílio no qual reside

Os cabecinhas-branca são os principais responsáveis pelos seus domicílios, com base na tabela abaixo, verificou-se que 62,21% dos cabecinhas-branca eram responsáveis pelos domicílios e os cônjuges representavam cerca de 22%, o que significa que a grande maioria (84,21%) desta população ocupa um papel de destaque no modelo de organização da família gonçalense. Outro fator interessante é que as mulheres dividem em pé de igualdade com os homens a responsabilidade pela moradia.




Fonte: Censo Demográfico/IBGE, 2010
  A Escolaridade dos cabecinhas-branca

O nível educacional é um dos indicadores na caracterização do perfil socioeconômico da população. No caso da população dos cabecinhas-branca, o indicador de alfabetização é considerado um termômetro das políticas educacionais brasileiras do passado. 

A escolaridade dos cabecinhas-branca é baixa, principalmente entre as mulheres. Mais uma vez, se pode atribuir este resultado às características da sociedade e às políticas de educação prevalecentes nas décadas de 1930 e 1940, quando o acesso à escola era ainda muito restrito.
  
Gráfico 4 - Escolaridade dos cabecinhas-branca, São Gonçalo, 2010.

Fonte: Censo Demográfico/IBGE, 2010

Nas décadas de 1930 até, pelo menos, os anos 1950, o ensino fundamental ainda era restrito a segmentos sociais específicos. Nessa medida, o baixo saldo da escolaridade média dessa população é um reflexo desse acesso desigual.

Quanto recebem os cabecinhas-branca?

A renda de um indivíduo é responsável pela determinação de sua capacidade de aquisição de bens e serviços, esta pode ser interpretada como uma proxy de indicador de bem estar individual e de pobreza.
Fica claro que o grupo masculino tem um rendimento melhor do que o feminino. Todavia, o rendimento predominante, ou seja, aquele que possui mais pessoas, está entre 1/2 a 1 salário mínimo. A explicação mais razoável é que grande parte dessa população é beneficiária do sistema de previdência social na categoria de aposentados e de pensionistas.


Gráfico 5- Rendimento dos cabecinhas-branca por classe (nº Salários mínimos) e por sexo, São Gonçalo, 2010.
Fonte: Censo Demográfico/IBGE, 2010
Principais causas de morte nos cabecinhas-branca

Um dos grandes “vilões” dos cabecinhas-branca está no seu próprio cuidado com a saúde. As principais doenças que causam morte nesta população estão nas doenças do aparelho circulatório 35,4% e nas doenças no aparelho respiratório 16,1%.

Tabela 2 - Óbitos p/Ocorrência por Sexo segundo Capítulo CID-10, por sexo, São Gonçalo, 2011.



Conclusões

Evidente que o leitor, em todo trajeto da escrita, percebeu que os cabecinhas-branca se tratavam da população da terceira idade.
O motivo do neologismo social foi como forma de protesto. A sociedade, de um modo geral, e, por conseguinte a política ainda não internalizou que a população de idosos, terceira idade, cabecinhas-branca é membro sina qua non da sociedade e que é preciso discutir mais sobre esta população.

Ao fazer um rápido apanhado do que vimos nessa sumária análise dos cabecinhas-branca e responder as perguntas que incitaram nossa pesquisa, descobrimos que os cabecinhas-branca estão crescendo em representatividade dentro do cenário local, são responsáveis pelos seus lares, possuem baixa escolaridade devido a políticas públicas desiguais do passado, estão atrelados ao sistema de previdência social e que necessitam de maiores cuidados no que tange a saúde, sobretudo, a doenças ligadas ao aparelho circulatório e respiratório.

 



Sobre o Autor:
Wilson Santos de Vasconcelos Wilson Santos de Vasconcelos é editor do Blog Tafulhar. Formado em sociologia pela UFF e mestre em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais pela ENCE/IBGE.


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