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Quem foi Paulo José Leroux? Para o leitor esbaforido vou logo destacar . Foi NETO da destacada Madama, FILHO que se destacou  com ...

Paulo José Leroux: do Porto ao Trilho às Ruas de São Gonçalo-RJ.



Quem foi Paulo José Leroux? Para o leitor esbaforido vou logo destacar. Foi NETO da destacada Madama, FILHO que se destacou com sobrenome da mãe e HOMEM industrial e empreendedor de destaque em terras gonçalis. Pois é, Paulo José Leroux é neto da francesa Madame Maria Gabriella Margarida Bazin Desmarais Bojin Desmarest a qual ficou carinhosamente conhecida por Madama (como os brasileiros entendiam a pronuncia francesa para Madame), dona de grandes engenhos de açúcar e aguardente e de um porto fluvial na região. Seus pais são Carlos Francisco Desmarest e Rosa Arminda Leroux. Aos 29 anos é procurador para tratar de todos os negócios de sua avó. Para além, foi vereador por Niterói e um dos participantes e maiores entusiastas da emancipação política de São Gonçalo de 1890 e concessionário (dono) do ramal férreo do Porto da Madama. Foi também um dos líderes do movimento grevista de 1885 e suas terras receberam “arduamente” a estadia das forças armadas do Brasil. É isso! Vamos tafulhar por entre os mares, trilhos e ruas de Paulo José Leroux. 

Porto fluvial da Madama

Antônio Parreiras. Porto da Madama. 62 x 73 cm . óleo sobre tela  ass. inf. esq.  1905 . Etiqueta da exposição "A Paisagem Brasileira", Sociarte, realizado no Paço das Artes, São Paulo/SP, 1980.

Até o século XIX, a economia de São Gonçalo foi essencialmente agrícola, em destaque, os grandes engenhos de açúcar e aguardente. Em 1808, com a chegada da corte lusitana ao Brasil, se desenvolveu, realmente, a cidade do Rio de Janeiro como centro urbano, tendo-se iniciado, por essa ocasião, um período de expansão urbanística. A produção agrícola em São Gonçalo teve importância vital para o abastecimento dos mercados da cidade do Rio de Janeiro.

Engenho no Porto da Madama em São Gonçalo Descrição:óleo s/ tela, ass. inf. dir. (c. 1896) Reproduzido sob o n. 171 na p. 180 e na p. 203 do livro Castagneto – O pintor do mar, de Carlos Roberto Maciel Levy (Rio de Janeiro: Pinakoteque, 1982)

O relato do Marquês do Lavradio ao seu sucessor, o vice-rei Luiz de Vasconcelos e Sousa, citado por José Matoso Mala Forte, informa sobre essas freguesias. "Muito mais florescente era a vizinha freguesia de São Gonçalo, com 23 engenhos, produzindo 352 pipas de aguardente e 500 caixas de açúcar. O número de escravos subia a 952. "A freguesia de São Sebastião de Itaipú, também vizinha, produzia apenas 79 caixas de açúcar em seus 4 engenhos; tendo 138 escravos "Mas não era somente a cana a riqueza agrícola; as três freguesias cultivavam cereais, sendo sua produção global (não discriminada no relatório) de 500.500 litros de farinha; 100.000 de feijão, 78.000 de milho e 40.000 de arroz". (PALMIER, 1940, p.24)



Eram através dos seus portos que escoavam os produtos gonçalenses para o mercado da Praça XV, no Rio, utilizando embarcações denominadas faluas. Todo o litoral gonçalense era rico em portos, por isso temos até hoje denominações como Porto da Ponte, Porto Velho, Porto do Gradim, etc... e Porto da Madama foi um importante modal para abastecer a família real.



Participação de Paulo José Leroux no Movimento Grevista de 1885

Em outubro de 1885, um grupo constituído por mais de cem pequenos lavradores, quitandeiras e pombeiros (vendedores ambulantes de peixe) paralisou suas atividades na Praça das Marinhas, à margem da doca do movimentado Mercado da Candelária, principal centro de compra e venda de gêneros alimentícios do Rio de Janeiro Oitocentista. Os trabalhadores que ali estacionavam seus cestos e tabuleiros não aceitaram pagar a diária de 400 réis cobrada pelos empresários e por isso se recusaram a vender seus produtos e ainda impediram que barcos e carroças que vinham das freguesias suburbanas e de locais mais distantes descarregassem no cais.

Com as notícias sobre a greve publicadas na imprensa, dentre eles, participavam vários donos de embarcações de São Gonçalo assinaram a petição remetida ao Ministério do Império logo no primeiro dia do movimento grevista. Nesse grupo, estava a proprietária Margarida Bazin, que também foi representada por seu filho Carlos Francisco Desmarest e seu neto e representante Paulo José Leroux.


Paulo Leroux teve uma atuação ainda mais direta, comandando uma reunião com cerca de duzentos lavradores numa casa na rua do Ourives. As informações sobre essa assembléia são sucintas. De acordo com o Diário de Notícias de 7 de outubro, Leroux mostrava-se bem articulado, falando contra as barraquinhas e anunciando que já havia combinado com a empresa da Praça da Harmonia para que as vendas fossem transferidas para o local, caso o impasse com a Câmara e os empresários não fosse resolvido

Construção do ramal Ferroviário Porto da Madama

Com base nos registros da Revista de Engenharia de 1890, Paulo José Leroux então proprietário do engenho de aguardente e terras adjacentes do Porto da Madama, na freguesia de São Gonçalo de Nictheroy, solicitou junto ao presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Francisco Portella, que concedesse a permissão de construir um desvio da Estrada de Ferro Leopoldinha até o Porto da Madama para transporte de carga e mais tarde o transporte de pessoas.


Estação ferroviária Porto da Madama. A estação é considerada patrimônio
histórico do município de São Gonçalo com base na lei municipal n.222/2009

Por decreto n.93 de 12 de junho do corrente o Dr. Franciso Portella, governador do Estado do Rio de Janeiro, atendendo ao que requereu Paulo José Leroux  e tendo em vista a informação prestada pela diretoria de obras, concedeu a Paulo José Leroux permissão para construir um desvio que, partindo do kilometro 5+300m da estrada de ferro Leopoldina, vá ao porto da Madama na freguesia de S. Gonçalo, com o desenvolvimento de cerca de 3 kilometros. (Revista de Engenharia - 1879 a 1891 - PR_SOR_03386_709743,1890, p.51)
Paulo José Leroux, concessionário do rama férreo do Porto da Madama, pedindo prorrogação de prazo por quatro meses a contar deste data, para estabelecer o trafego de passageiros no prazo designado por despacho de 1 de maio ultimo. (Revista de Engenharia - 1879 a 1891 - PR_SOR_03386_709743,1891, p.550)

O falecimento e a homenagem a Leroux
Pedido de hipoteca do ramal Porto da Madama
Gazeta de Notícias. 09.07.1898, p.2
Paulo José Leroux morre em 16.12.1901, já falido, aos 55 anos por tuberculose pulmonar deixando fazendas, prédios e ramal ferroviário a massa falida. Foi velado na Capela do Porto da Ponte, São Gonçalo. Uma das hipóteses para a falência de Leroux foi ter arcado com os custos de construir e manter o ramal férreo de 3 km e também por prejuízos e danos que sofreu em consequência de fatos da revolta de 1893-94 proveniente dos prejuízos causados exclusivamente pelas forças legais durante sete meses da revolta, nas suas casas, engenho, ramal férreo e plantações situados no porto da madama, , onde acamparam e fortificaram para impedir a invasão e desembarque dos revoltosos.

Em sua homenagem, a Câmara Municipal de São Gonçalo, pela deliberação n.° 56, de 12 de Maio de 1909 foi dado o nome a Rua Paulo Leroux que começa na rua Guanabara e se estende até a rua Dr. Francisco Portela e vai ao antigo Porto do Gradim. 


* Paulo José Leroux, que foi vereador em Niterói, representando São Gonçalo, membro do Conselho de Intendência de Niterói, em 1890, e conseguiu com o governador Francisco Portela a recuperação da estrada do Gradim ao Jacaré (atual Visconde de Itaúna) e a construção de ponte sobre o Rio Maribondo. (Referência: Jornalista Jorge Nunes)

Referências
Biblioteca Nacional – Hemeroteca Digital. Revista de Engenharia - 1879 a 1891 - PR_SOR_03386_709743, 1890, p.65.
Biblioteca Nacional – Hemeroteca Digital. Revista de Engenharia - 1879 a 1891 - PR_SOR_03386_709743, 1891, p.550.
PALMIER, Luiz. São Gonçalo cinquentenário: história, geografia, estatística, IBGE: Rio de Janeiro, 1940. 237p.

Sobre o Autor:
Wilson Santos de Vasconcelos Wilson Santos de Vasconcelos é editor do Blog Tafulhar. Formado em sociologia pela UFF, mestre em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais pela ENCE/IBGE e Doutorando em Ciência Política pela UFF. https://www.facebook.com/tafulharsg

9 comentários:

  1. Parabéns Sr. Wilson Santos de Vasconcelos pelo seu trabalho no resgate da história de São Gonçalo. Fiz um comentário no Facebook sobre a postagem do Porto da Madama, se puder responder agradeço.

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  2. Obrigado, Wilson, por mais um artigo e mais uma raiz entre mim e a cidade de São Gonçalo.

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  3. Excelente artigo. Jornalismo, história e cultura de primeira qualidade. Meus parabéns Tafulhar e obrigado pelo maravilhoso trabalho em prol de nossa São Gonçalo.

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  4. Obrigado Sr Wilson, muito comovido.

    Jorge Leroux

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  5. Olá.. que maravilha de Blog.. aqui no trabalho não posso ver imagens etc.. li pouco..mas em casa viajarei no blog.. sempre quis saber quem foi que deu o nome a rua Paul Leroux.. obrigado mesmo!! descobri muitas histórias de São Gonçalo que nunca aprendi embora tenho estudado em escolas municipais até a antiga 8ª série.. que bom poder saber agora! Será q o nome da rua que morei desde pequeno é possível saber? veremos depois!

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  6. "Seus pais são Carlos Francisco Desmarest e Rosa Arminda Leroux." Carlos Francisco Desmarest jamais foi casado com Rosa Arminda Leroux. Rosa Arminda Leroux era esposa de Paulo José Leroux, casados em 16/12/1888, em São Gonçalo. O filho do casal chamava-se Paulo Leroux, sem o José, nascido em 23/12/1911 no Rio de Janeiro. Carlos Francisco Desmarest casou-se em 02/10/1824 com Maria Joaquina de Moraes.

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  7. Paulo José Leroux era filho de Paulo Agostinho Leroux e Josephina Francisca Desmarais

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