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André Correia*             Nos anos de 1970, a cidade de São Gonçalo ainda gozava dos louros do desenvolvimento da política promovid...

Praça dos Ex-combatentes: marcas de um passado heroico

André Correia*


            Nos anos de 1970, a cidade de São Gonçalo ainda gozava dos louros do desenvolvimento da política promovida pelo prefeito Joaquim de Almeida Lavoura. Sua carreira teve início em 1947 quando foi eleito vereador pelo Partido Social Democrático, o PSD. Era conhecido como o “vereador de tamancos” que exercia mil e uma atividades, porém quero destacar a profissão de peixeiro e comerciante de “secos e molhados”. Dentre os inéditos feitos do grupo lavourista, quero frisar, neste artigo, à defesa do militarismo e do serviço prestado à nação. A história dos Ex-combatentes gerou encontros políticos, plenárias públicas e leis municipais em defesa dos pracinhas que estiveram na guerra.


 Osmar Leitão Rosa,  prefeito que iniciou a construção da Praça dos Ex-combatentes





Dos treinamentos no Morro do Castro em Niterói às sangrentas lutas no frio de Monte Castelo na Itália, a Grande Guerra levou parte considerável do 3° Regimento de Infantaria da Venda da Cruz e com ele centenas de Gonçalenses. O local surgiu no ano de 1935 como o 3º Regimento de Infantaria, com sede na Chácara Paraíso. Quatro anos depois, passou a ser 3° Batalhão de Infantaria em substituição ao 14° Regimento de Infantaria, da Praia Vermelha, que havia sido extinto após o bombardeio da Intentona Comunista. Contudo, esta não são as histórias que me trouxeram até aqui e nem os são fatos em que devo me ater.

Anos dourados da Praça dos Ex-Combatentes.


Quero escrever sobre a Praça dos Ex-combatentes que foi fundada em 24 de outubro de 1970, situada nesta mesma derradeira e amada cidade. A Praça é uma jovem senhora de 43 anos, do 1° decanato de escorpião, com duas grandes reformas, é um museu a céu aberto, que foi erguido em homenagem aos Combatentes da 2° Guerra Mundial. É composta por um obelisco, um mastro central para quatro bandeiras, mapa do Brasil e  Brasões oficiais, um tanque, uma hélice e munições de guerra. No monumento aos soldados mortos ficou a mensagem para os vivos: 
“Aos que em holocausto à Pátria, tiveram como túmulo às águas do atlântico ou a terra fria da Itália. A morredoura gratidão e imperecível saudade dos que ficaram”.   

André Correia entrevistando o Ex-Prefeito Osmar Leitão Rosa na Pça dos ex-combatentes

O ex-prefeito Osmar leitão (1967-70), que assumiu sua 1° secretaria aos 19 anos,  foi o fundador da Praça mas quem inaugurou foi José Alves Barbosa (1970-71), que havia assumido a prefeitura. Osmar caminhou recentemente por entre os monumentos no bairro do Patronato e falou com orgulho dos tempos em que a sociedade se comovia em homenagear os soldados e a construção da Praça:
 “esse espaço pertencia a CEDAE, aqui se fazia os serviços diários da manobra de água, mas depois ficou abandonado, quando cheguei à Prefeito, solicitamos ao Governador Geremias Fontes, permissão para urbanizar o local. No rastro dessa autorização conseguimos também o espaço onde hoje funciona a  Associação dos Ex combatentes fundada em 1º de outubro de 1945 pelo senhor Rubem Silva".  
Da promoção ao reconhecimento




Muitos Ex-Combatentes passaram de soldados de guerra a funcionários públicos do município e membros ilustres da sociedade gonçalense. Inúmeras leis foram votadas para beneficiar o Ex-Combatentes e sua família, como por exemplo, o recebimento de Soldos (Salário) que foi utilizado em grande escala como apoio aos serviços prestados à nação. Osmar Leitão afirma entusiasmado pelo reconhecimento aos pracinhas que ainda hoje, em março de 2014, são reconhecidos e pela Lei, e onde quer que seja descoberta uma família de um ex-combatente desamparada, o estado prestará o devido auxílio.

“Um guardião da nação não deve ficar desamparado. As políticas de proteção foram implementadas a favor do heroísmo e das vitórias de guerra.” Declarou o ex-prefeito. Em um tempo de “ame ou deixe-o” o discurso cívico-patriótico pode ser comprovado nas palavras confeccionadas em placas de bronze, fixadas nos artefatos da praça, como memória e reafirmação do discurso de preservação. A praça ser representada simbolicamente como monumento, fez partes de um complexo de 109 homenagens realizadas pelo governo brasileiro em todo território nacional.  

Geraldo Ataíde, o presidente da “Associação dos Ex-Combatentes”, gozava do prestígio da guerra e conseguiu as peças que hoje compõem o museu militar. Além disso, os mortos também foram homenageados com nomes de ruas recém criadas em São Gonçalo, no bairro do Engenho Pequeno, por exemplo é fácil encontrar ruas com o nome de Expedicionários de guerra.

As décadas se passaram e hoje a população confunde a homenagem aos pracinhas com uma exaltação ao regime ditatorial de 1964. Hoje temos o fruto de uma geração sem memória, voltada para o pensamento “macro consumista”, e de pouco valor aos estudos e a história regional. Este descaso ao regionalismo e a memória local interfere profundamente na relação de história e memória do cidadão gonçalense. Segundo a professora Maria Tereza Goudart a Alfabetização Patrimonial promove ao indivíduo não só a valorização do patrimônio de Pedra e Cal, mas também a valorização da história, da memória  e do mundo que o cerca. Vale ressaltar que a história detém o poder da construção e da reconstrução social sendo a memória a chave para tal artimanha social.

E por falar em História, a Força Expedicionária Brasileira ficou com a missão de representar o Brasil na segunda Guerra Mundial. E isso aconteceu a partir do decreto de 31 de agosto de 1942 do presidente Getúlio Vargas, declarando estado de guerra em todo território nacional. Mas antes disso, a bordo do navio de transporte americano General Mann em 22  de agosto, nossos jovens já deixavam as terras de “Amarante” ao som da ‘Canção do expedicionário, “a marcha” de Spartaco Rossi e Guilherme de Almeida. Este fato daria aos Gonçalenses um lugar de prestígio heróico e conquistas titulares na história do país e da cidade, mas também traria morte e sofrimento às famílias papagoiabas.

Hoje em dia...




Destruída pela população de diversas formas, a Praça resiste. Hoje é palco da feira nordestina, cheia de costumes e comidas cariocas. É praça de alimentação dos ensaios da Viradouro e da unidos do Porto da Pedra. É palco da Roda Cultural. Do grupinho de amigos e do “baseado” de Canabias Sativa. É palco de amores passageiros e flertes da molecada. É cenário de skatista, artista, desocupados e bêbados conhecidos. É lembrança das flores amarelas e fotos ao lado dos monumentos. Mas nada disso lembra os Ex-combatentes de guerra, embora o nome e os objetos não neguem.  A Praça, foi símbolo do governo Lavourista, e se tornou patrimônio da humanidade local. Tinha como principal objetivo oferecer espaço de lazer gratuito ao cidadão e fazer dali um espaço de convivência. Sim, estes objetivos foram alcançados e os cidadãos, idosos, paqueradores e namorados agradecem.
Praça dos Ex-combatentes vista pelos dois lados.



            Salve a Itália! Viva Anita Garibaldi! Salve o monumento fúnebre das lembranças dos pracinhas, presos no riso dos frequentadores que nada sabem sobre a história, mas ainda sim, sentem...



Recomenda-se a leitura da monografia “A Praça dos Ex-combatentes: Memória e Esquecimento” de Rogério Fernandes da Silva, graduado em Licenciatura Plena em História, pela Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, no ano de 2003. Link da monografia: Aqui


Sobre o Autor:

André Correia André Correia é colaborador do Blog Tafulhar. Formado em História pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj- FFP), Professor de História, Gestor Cultural e Editor do Jornal Folha Nativa, em São Gonçalo.

8 comentários:

  1. Muito bom o artigo. Costumava passar de ônibus em frente a essa praça quando era criança e nem imaginava o que era. Hoje sou apaixonado por História, principalmente sobre guerras e pesquisei sobre a praça pois lembrava dela. Fiquei até emocionado! Parabéns!

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  2. Da tristeza de ver como se encontra a praça totalmente destruída e abandonada.
    Será que ainda teremos ela de volta para famílias gonçalenses?

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  3. boa sua iniciativa, André.
    Podemos colocar seu artigo no acervo virtual da Sociedade de Artes e Letras?

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    Respostas
    1. Alexandre Martins. Todos os artigos que estão disponibilizados no Tafulhar podem ser colocados em quaisquer veículos. Fique a vontade. Abraços, Tafulhar.

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    2. Amigos, gratidão pela apreciação!!!

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  4. muito bom o artigo...a historicidade permeia uma reflexão sobre nosso meio em que vivemos..

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